17 de agosto de 2017

Um grão de areia

A maioria das pessoas entende a depressão alheia como um fricote, uma frescura, um mal menor.

Realmente, é uma coisa pequena, ínfima, assim como um grão de areia.

Agora, pense nesse grão de areia entre seus dedos do pé, usando um sapato apertado.

Ou melhor ainda, um minúsculo grão de areia dentro do seu olho.

Pois é, no dos outros é refresco...

14 de maio de 2017

Mãe...

Ela sabia como ninguém fazer as coisas que eu gostava: panqueca de carne, miolo de boi à milanesa, gemada com canela, salada de chuchu, bolo de banana, nhoque com frango, bolinho de chuva, sopa de macarrão com feijão.

E gestos de carinho, como deixar meu uniforme escolar limpo e dobradinho nos pé da minha cama, arrumar o cobertor no meu pescoço em noites de muito frio, esperar acordada até eu chegar do colégio depois da meia-noite.

Nunca deixou me faltar nem que fosse meio litro de leite todos os dias, mesmo com seu minúsculo salário de diarista e lavadeira. Jamais pesou mais de 50 quilos, morreu com menos de 30.

Como eu gostaria que D. Joana, essa mulher gigante voltasse ao menos um instante das estrelas pra eu poder lhe dar um beijo e um abraço repleto de gratidão...

11 de maio de 2017

Obrigado, Estrela...

Trabalho desde meus 11 anos de idade. Sempre estudei em escola pública, até terminar o colegial. Só
fui estudar em escola particular já na faculdade, onde ganhei o direito a um pequeno desconto em razão da minha ótima classificação no vestibular. 
Nunca recebi uniforme, calçado ou material escolar de nenhuma espécie. Tinha só uma camisa branca que minha mãe lavava e passava diariamente para eu usar no dia seguinte. Lembro até hoje a cara de dó de minha professora no 2o. ano primário, ao me ver tomando meu lanche, que era um pedaço de pão puro, acompanhado de uma garrafinha de café preto, que eu levava de casa. 
Meu melhor calçado, usado diariamente pra ir à escola era uma Alpargatas Roda, aquelas de sola de corda, que ao desgastar formava umas barbelas no lado de fora do calcanhar. Quando não tinha mais jeito, lembro de ir muitas vezes descalço ao Grupo Escolar. 
No colegial, o uniforme era um avental branco, com as iniciais da escola impressas numa etiqueta, presa por colchetes. Quem sempre bancou tudo isso foi minha mãe, com seu modestíssimo salário de diarista e lavadeira. Mesmo assim nunca me deixou faltar o essencial. Nunca pesou mais que 50 kg, morreu com pouco mais de 30. 
Só percebi com mais nitidez tudo que ela significou na minha vida depois que a perdi para sempre. Domingo eu vou comemorar o seu dia. Mesmo sem a sua presença, onde ela estiver, vai saber o quanto me orgulha ter sido seu filho. 
E o quanto lamento em não poder mais lhe dar um abraço e um beijo, além de dizer o quanto sou grato por tudo que ela fez por mim...